Punitivismo não-neoliberal: Controle social e moralidade em programas policiais televisivos

• Autor: Amílcar Cardoso Vilaça de Freitas
• Páginas: 55-71

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Punitivismo não-neoliberal: Controle social e moralidade em programas policiais televisivos

Amílcar Cardoso Vilaça de Freitas. 55-71 pp

Puniivismo não-neoliberal: Controle social e

moralidade em programas policiais televisivos

Non-neoliberal Punishment: Social control and morality in television

programs about police and criminality

Amílcar Cardoso Vilaça de Freitas.

amilcarchicago@yahoo.com.br

Insituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia

Sul-Rio-Grandense (IFSul). Brasil

Recibido: 10-08-2018

Aceptado: 03-09-2018

Resumo

Esse arigo busca discuir como programas televisivos policiais abordam

questões ligadas ao trabalho e à classe trabalhadora. Nesse senido, revisa

a relação entre o controle social da classe trabalhadora e controle da

criminalidade, com destaque para a paricipação da mídia nesse processo e

para a forma como esse processo se dá na atualidade. Analisaram-se “Cidade

Alerta” e “Brasil Urgente”, dois programas policiais de exibição nacional no

Brasil. Pode-se verificar que os programas se posicionam com relação a uma

gama de questões e que, muitas vezes, se afastam das construções neoliberais

e buscam a defesa e a proteção do trabalhador, ao mesmo tempo em que

pedem por punições mais duras para criminosos.

Palavras-chave: Programas policiais; controle social; puniivismo; neoliberalismo.

Abstract

In this aricle, we intend to discuss how television programs about police and

criminality approach issues concerning labor and working class. Hence, it

reviews the connecion between social control of the working class and control

of criminality, focusing in how media paricipates in this process and how

this process is taking place now a days. Two programs were analyzed, “Cidade

Alerta” and “Brasil Urgente”, both of them television programs exhibited

naionally in Brazil. It was possible to verify that the broadcasters posiioned

themselves in a wide array of issues and that, many imes, they pulled away

from neoliberal construcions, in order to promote defense and protecion

of the laborer, but simultaneously demanding harsher criminal punishment.

Key-words: Policial programs; social control; punishment; neoliberalism.

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DOSSIER: Las sensibilidades sociales hoy. Sociología de los cuerpos/mociones en el sur global

Introdução

Na pesquisa em tela buscou-se trabalhar a intersecção entre o controle da

criminalidade e o controle social dos trabalhadores no Brasil, com destaque

para como os programas televisivos especializados em temas policiais

trabalham a diferenciação entre “trabalhador” e “cidadão de bem”, de um

lado; e criminoso ou “bandido”, de outro. Historicamente, verifica-se que os

dois ipos de controle social estão ariculados (FOUCAULT, 1987; NEDER,

1995; MISSE, 1999; MALAGUTI BATISTA, 2003; WACQUANT, 2007; GARLAND,

2008), o que permite pensar no controle da “delinquência” (FOUCAULT, 1987)

como parte das estratégias de controle social da classe trabalhadora em geral.

Pretendeu-se, contudo, observar como a classe trabalhadora é representada

nos programas de televisão especializados em questões criminais.

Michel Misse aponta que “é contra o ethos do trabalho que age o bandido.”

(MISSE, 1999, p. 208), indicando que o combate aos “bandidos”, ao longo do

século XX, tem como marca estar sempre ariculado com os processos de

disciplinamento das classes populares. Alba Zaluar (1994) argumenta que o

“bandido” é alguém que abriu mão da éica do trabalho. Segundo ela, entre os

mais pobres existem aqueles que se revoltam, mediante as péssimas condições

de trabalho – baixos salários, posições subalternas – que os esperam caso eles

decidam se engajar no mercado formal, e, portanto, optam por passar a portar

uma arma e a sobreviver do dinheiro obido através de práicas criminalizáveis.

Por outro lado, em pesquisas mais recentes, Gabriel Feltran (2010) indica que

as fronteiras entre “mundo do crime” e “mundo do trabalho” se encontram

mais porosas, de forma a transformar as sociabilidades, tensionando com as

insituições sociais já estabelecidas, como a escola, a igreja e a família.

Para além da aitude dos “bandidos” em se diferenciar dos trabalhadores ou

de se revoltar contra a disciplina do trabalho, existe toda uma forma de controle

sobre as classes mais pobres, que as definem enquanto “classes perigosas”, ao

menos em potencial. Ao longo da história no Brasil, surge uma demanda por

ordem social, sempre ariculada com as exigências de controle e disciplina da

mão de obra. (KOWARICK, 1994; MALAGUTI BATISTA, 2003; NEDER, 1995).

Em cada época histórica, essa demanda por ordem precisa ser reorganizada

para atender a novas necessidades de controle dos trabalhadores que o novo

regime de acumulação (HARVEY, 2010) exige. Desejamos chamar atenção, para

o fato de que essas transformações não se dão apenas em políicas públicas

e interações no mercado, mas também há um componente ideológico a ser

elaborado, na busca pela formação de um consenso sobre o controle social,

parte sobre a qual a mídia pode ter uma paricipação importante.

As mudanças no capitalismo no final do século XX trouxeram novas formas

de controle sobre a população mais pobre e sobre a classe trabalhadora em

geral. Se, por um lado, pode-se observar uma mudança de uma sociedade

disciplinar para uma sociedade de controle (DELEUZE, 1992), isso também vai

levar a uma transformação na demanda por ordem nos discursos relacionados

com a questão criminal. A pesquisa que realizamos busca entender como essas

demandas são consituídas em programas televisivos de temáica policial na

atualidade.