Trabalho e Trabalho Docente na Educação Básica em Tempos Precarização no Brasil

AutorFabiane Santana Previtali, Cílson César Fagiani
Páginas223-240
223
Fabiane Santana Previtali - Cílson César Fagiani.
Trabalho e Trabalho Docente na Educação Básica ... [223-240 pp.]
Trabalho e Trabalho Docente na Educação
Básica em Tempos Precarização no Brasil1
Work and Teaching Work in Basic Educaion in Precarious Times
in Brazil
Fabiane Santana Previtali. fabiane.previtali@gmail.com
Universidade Federal de Uberlândia. Brasil
Cílson César Fagiani. cilsoncf@gmail.com
Universidade de Uberaba. Brasil
Recibido: 02/03/2020
Aprobado: 23/03/2020
“(...) o poder do Estado tem sido uilizado em toda parte pelos
governos para locupletar a classe capitalista, e por grupos ou
indivíduos para locupletar-se a si mesmos”.
Harry Braverman, Trabalho e Capital Monopolista, p. 245.
Resumo
O objeivo do arigo é analisar as mudanças no trabalho e as formas de
resistência dos professores da educação básica pública no Brasil em especial
a parir do governo Temer (2016-2018), quando intensif‌icam-se as reformas
neoliberais, com ênfase na desregulamentação do trabalho via aprovação da
Lei Nº 13.467/2017 da Reforma Trabalhista. Nesse contexto, o trabalho docente
na educação básica tem sido reformulado via difusão de contratos lexíveis e
temporários, avaliações padronizadas de desempenho individual, vinculadas
à metas e resultados e pagamentos diferenciados por produividade. Essas
mudanças consituem, em úlima instância, novos mecanismos de controle e
submissão do trabalho. A precarização do trabalho docente ainge especialmente
os jovens os quais são inseridos no mercado de trabalho sob condições laborais
que se opõem ao contrato de trabalho de tempo integral e com algum nível de
proteção social, com rendimentos tendencialmente inferiores. O estudo se faz
a parir de revisão de literatura, pesquisa documental e empírica, mediante
entrevistas, envolvendo professores, gestores e lideranças sindicais.
Palavras-Chave: Trabalho docente; Educação básica; Brasil; Precarização;
Qualif‌icação.
1 O presente arigo foi inicialmente apresentado no GT 17: Trabalho e Reestruturação Produiva, do
XXXII Congresso da Associação Laino-americana de Sociologia – ALAS, ocorrido em Lima, Peru, entre
os dias 1 e 6 de dezembro de 2019. Apresentamos agora uma versão atualizada, resultado do profícuo
debate ocorrido no âmbito do GT. Somos gratos aos comentários e contribuições dos paricipantes no
senido de tornar esse trabalho mais claro em suas formulações. Nossos sinceros agradecimentos ainda
ao Prof. Alberto L. Bialakowsky pelo apoio e amizade e ao Prof. Leonel Rivero Cancela pela oportunidade
dessa publicação. Por f‌im, ressaltamos que somos responsáveis pelo conteúdo aqui divulgado.
224 Controversias y Concurrencias Latinoamericanas Vol.11 N.20. abril-septiembre 2020
Dossier: La “cultura del trabajo”. ISSN: 2219-1631 | ISSN-L: 2219-163
Abstract
The aim of this paper is to analyze the changes in work and the forms of
resistance of teachers of public basic educaion in Brazil, especially from the
Temer government (2016-2018), when neoliberal reforms were intensif‌ied,
with emphasis on labor deregulaion via approval of the Labor Reform Law
No. 13,467 / 2017. In this context, teaching work in basic educaion has been
reformulated through the difusion of lexible and temporary contracts,
standardized individual performance evaluaions, linked to goals and results,
and difereniated producivity payments. These changes are, ulimately, new
mechanisms of control and submission of work. The precariousness of teaching
work especially afects young people who are inserted in the labor market
under working condiions that oppose the full-ime employment contract and
with some level of social protecion, with usually lower incomes. The study
is based on literature review, documentary and empirical research, through
interviews involving teachers, managers and union leaders.
Key words Teaching work; Basic educaion; Brazil; Precariousness; Qualif‌icaion.
Introdução
Atualmente, o processo de reestruturação produiva do capital nas economias
globais está originando um novo ipo de organização e controle dos processos
de trabalho mediante a introdução de tecnologias de informação e comunicação
(TICs), também chamadas tecnologias digitais, as quais buscam aprimorar
as formas de exploração do trabalho. São estabelecidas novas formas de
controle do trabalho que acirram a compeiividade e o individualismo
entre os trabalhadores e trabalhadoras no local de trabalho e fora dele, num
contexto de redução da proteção social via (des)regulamentação do trabalho
na esfera do Estado Gestor que favorece a ruptura da solidariedade de classe.
Numa aparente contradição, sob a acumulação da era digital, o fenômeno da
proletarização e da precariedade laboral não estão restritos aos trabalhadores
e trabalhadoras sem qualif‌icação ou manuais, mas se aplica também ao
trabalho qualif‌icado e prof‌issionalizado, ao trabalho intelectual, assumindo
um caráter estrutural e transversal a todas às prof‌issões.
Cabe salientar que a categoria proletariado foi desenvolvida por Marx (2013)
ao denominar de proletário o operário moderno, nascido no bojo das relações
industriais, em oposição ao burguês, aquele é despojado da propriedade
dos meios de produção, passando possuir apenas sua força de trabalho que
deverá ser vendida ao capitalista sob o risco de não sobreviver. O seu trabalho
torna-se determinado por outro, pelo capitalista, num processo crescente de
alienação. Braverman (1981), quando fala de proletarização, alude que uma
determinada fração de classe, disinta da classe trabalhadora, transforma-se
em parte desta úlima na medida em que o capitalismo avança no controle do
trabalho mediante a introdução de inovações técnicas e/ou organizacionais
no local de trabalho.
Ao mesmo tempo que se vivencia o aprofundamento da alienação e as
relações e condições de trabalho tornam-se mais precarizadas, o novo memento
da acumulação capitalista ancora-se nas exigências de maiores de níveis de
escolaridade e qualif‌icação. O trabalho docente está inserido nesse contexto.

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